Ferrovias buscam recursos de títulos verdes
O segmento de ferrovias será o primeiro
no cronograma de concessões do governo federal com a opção de captar
financiamento no mercado de green bonds, os chamados títulos verdes. Um acordo
assinado em Nova Iorque pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de
Freitas, com a Climate Bonds Initiative (CBI) vai viabilizar o primeiro green
bond governamental feito no mundo, segundo Thatyanne Gasparotto, diretora para
América Latina da certificadora internacional de projetos ambientalmente
sustentáveis. Um selo verde conferido a projetos que serão concedidos à
iniciativa privada ampliará oportunidades de crédito. Os primeiros projetos
devem sair no início de 2020.
"Temos que ter projetos sustentáveis. Alguns que se destaquem pela
substituição de carbono são muito elegíveis para esses títulos verdes. É o caso
das ferrovias, que tiram muitos caminhões das rodovias, eliminando emissão de
carbono. Dar esse carimbo a esses projetos é mostrar para investidores que já
têm essa preocupação com responsabilidade ambiental que o projeto é
interessante", disse Freitas.
Os green bonds são
títulos emitidos para captar recursos para investimentos em projetos com
impactos socioambientais positivos, incentivando ações de mitigação dos efeitos
das mudanças climáticas. "Os investidores institucionais estratégicos vão,
cada vez mais, ter essa preocupação. E nós não estamos adormecidos para essa
tendência. Ao contrário, estamos muito atentos", frisou Freitas, num
momento em que o Brasil vem sendo alvo de críticas na área ambiental no cenário
internacional, principalmente devido a queimadas na Amazônia.
O foco inicial do governo será a certificação dos projetos de ferrovias
e, posteriormente, portos, aeroportos e rodovias que compõem a carteira da
pasta. A certificação teria impacto ainda nas metas de redução de emissões
previstas no Acordo de Paris, diz o ministro.
A CBI vai avaliar a carteira de novas concessões de ferrovias planejadas
pelo governo, que somam perto de R$ 16 bilhões em investimentos nos projetos
Ferrogrão, Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Ferrovia de Integração
do Centro-Oeste (Fico). Com isso, vai estimar quais etapas (e quantos) poderão
justificar emissões de green bonds.
De acordo com Thatyanne Gasparotto, o setor de ferrovias foi escolhido
por ser o mais diretamente associado a emissões verdes, sobretudo quando usado
para escoamento de commodities, uma vez que o modal tem pegada ecológica mais
limpa que rodovias e aeroportos.
O planejamento é que,
até o começo de 2020, a avaliação desses três projetos esteja concluída. O
passo seguinte ainda não foi definido, disse a diretora da CBI, mas são
consideradas as carteiras de renovação de ferrovias (R$ 46 bilhões) e a
concessão de hidrovias.
"O maior potencial está nas ferrovias. E esse programa tem o
potencial de multiplicar em algumas vezes o estoque de green bonds já emitidos
pelo Brasil", disse ela. "Nunca tivemos tanto capital disponível, e
hoje temos muito mais investidores que buscam papéis verdes do que os
tradicionais."
O ministro da Infraestrutura sustenta que é difícil prever o quanto os
títulos verdes podem trazer em financiamento ao País. Mas já frisa que o volume
total em investimentos vai saltar em 2020. "Vamos encerrar 2019 com R$ 11
bilhões em investimento contratado só nos leilões que fizemos de arrendamentos
de ferrovias, rodovias e aeroportos. Se somados com os autorizados no setor
portuário, chegam a R$ 30 bilhões. Em 2020, podemos saltar a R$ 50 bilhões em
investimento contratado."
Acesso em: 14 out 2019.
Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cadernos/jc_logistica/2019/09/705402-ferrovias-buscam-recursos-de-titulos-verdes.html

Comentários
Postar um comentário